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Redução da Selic é bem-vinda, mas segue dessincronizada com a queda da inflação, afirma Abit

17/04/2017

Fernando Valente Pimentel, presidente da Abit, salienta que a redução dos juros precisaria ser maior do que a anunciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) no dia 12 de abril.  

“A queda dos juros básicos de 12,25% ao ano para 11,25% ao ano é bem-vinda. Mesmo assim, continuamos pagando juros básicos reais da ordem de 6% ao ano, o que é uma barbaridade, considerando as taxas praticadas no mundo inteiro, tanto em países desenvolvidos quanto emergentes”, enfatiza Pimentel, acrescentando: “Sem dúvida, a redução dos juros pagos pelo governo aos compradores de seus títulos ajudará na diminuição das taxas pagas pelas pessoas físicas e jurídicas aos bancos, mais absurdas ainda, bem como auxiliará na redução das despesas do Estado com o serviço de sua dívida. Porém, quando começaremos a falar e tratar do verdadeiro conceito de déficit, que é o nominal e não o primário?”.

Pimentel comenta queda dos juros

Para o presidente da Abit, juros menores também reduzirão o potencial de valorização do Real, que vem prejudicando muito os exportadores e aumentando a competitividade dos produtos importados, em detrimento da produção e do emprego no Brasil. Ele entende que, apesar de salutar, a redução dos juros básicos está dessincronizada com a queda da inflação. Esta, dadas as circunstâncias recessivas da economia e da grande safra agrícola, caiu muito mais fortemente do que a Selic. 

“Temos de acelerar esse processo de redução dos juros, sem atalhos artificiais, e tratar a questão de maneira sistêmica. As taxas de juros no Brasil são as maiores do mundo há anos e vêm prejudicando enormemente o potencial de investimento, de geração de empregos e de ganhos de produtividade e de competitividade das empresas e do País”, ressalta Pimentel, lembrando que há outro efeito colateral negativo: “Taxas reais de juros elevados levam à apreciação da moeda brasileira, descolando sua cotação dos fundamentos da economia real e trazendo uma falsa e temporária sensação de riqueza, cujo preço já pagamos diversas vezes”. 

Segundo Pimentel, “sem desatarmos o nó górdio dos juros elevados e da 'secura' de crédito ora existente, não retomaremos o crescimento na velocidade necessária para atendermos às necessidades do Brasil e de sua população. Entendemos que o estrago macroeconomico foi enorme e que a recuperação será mais lenta do que em outras recessões. Por outro lado, existem diagnósticos de sobra para que possamos focar a atenção de parte da equipe econômica na fundamental questão das taxas de juros e do crédito em nosso país. Sem a retomada do crédito a juros civilizados e uma organizada renegociação das dívidas atuais, ficaremos patinando em nossa tão necessária e possível retomada econômica”.