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Educação profissional amplia oportunidades para jovens

07/07/2016

A primeira bateria de provas de seleção dos estudantes que vão representar o Brasil na 43ª WorldSkills teve início no dia 4 de junho. A competição internacional de profissões técnicas deve acontecer outubro de 2017, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Participarão da seleção da equipe brasileira os estudantes de cursos técnicos e de formação profissional do SENAI. Em novembro, os alunos enfrentarão um novo desafio: a Olimpíada do Conhecimento, o torneio de educação profissional promovido a cada dois anos pelo SENAI. As duas disputas têm como base as qualificações exigidas pelo mercado de trabalho e as atualizações tecnológicas que estão chegando às empresas.

Jovens como os participantes dessas competições que apostam neste momento em educação profissional terão um diferencial em sua formação quando o crescimento econômico for retomado e o País voltar a gerar empregos, aposta o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi. Em entrevista ao Portal da Indústria, o também diretor de Educação e Tecnologia da CNI afirma que o ensino técnico amplia as chances de sucesso para quem deseja se inserir no mundo do trabalho e quer construir uma carreira profissional sólida. Ele avalia ainda o atual cenário em setores que têm gerado oportunidades mesmo diante da crise.

Como a educação profissional pode ajudar o jovem, que faz parte do segmento mais afetado pelo desemprego neste momento?

Investir em educação profissional é uma estratégia muito importante para uma pessoa que perdeu o emprego se requalificar ou para um jovem que quer ter carteira assinada. A educação profissional amplia a oportunidade de inserção no mercado de trabalho do jovem, que tem dificuldade de obter seu primeiro emprego. No Brasil hoje nós temos 11% de desemprego na população aberta e quando você vai para o jovem, normalmente, é o dobro disso, vai estar acima de 26%, o que é muito grave. Para alguns jovens, essa inserção no mercado de trabalho pode ser o único passaporte para a continuação dos estudos porque ele vai ter os recursos necessários para pagar a universidade e dar continuidade à sua formação. O jovem pode usar o ensino técnico para iniciar um projeto de vida com uma profissão já definida. Se ele é um técnico em mecânica, pode fazer um curso de tecnólogo em mecânica e depois um bacharelado em engenharia. Além disso, dois indivíduos que têm o mesmo nível de escolaridade, se um deles tem um ano de educação profissional, ele tem 15% a mais de renda. Se essa educação for do SENAI são 24% a mais de renda, o que não é trivial. Várias ocupações técnicas competem muito bem com formações de nível superior. A educação profissional é algo que auxilia bastante os projetos individuais da juventude, tem um papel de dar mais oportunidade para os jovens, fazendo do Brasil um país mais justo.

Com um curso técnico, os jovens podem se preparar, por exemplo, para buscar vagas em empresas que atualmente dão ênfase ao mercado externo?

O mercado exportador vai exigir eficiência, competitividade e um dos fatores que vai impactar fortemente na competitividade das empresas é a produtividade do trabalho. As empresas que querem participar de nichos do mercado internacional vão ter de buscar processos produtivos que sejam mais eficientes. Certamente, essa busca vai recondicionar os requisitos de formação de mão de obra e as empresas devem procurar uma força de trabalho mais bem qualificada para operar plantas mais modernas, mais intensivas em tecnologias e isso deve criar oportunidades para técnicos qualificados. Na medida em que as empresas estão se modernizando para participar do mercado externo, evidentemente vão precisar de trabalhadores mais qualificados para competir com os trabalhadores estrangeiros. O jovem, ao buscar uma formação técnica, pode se diferenciar nesse mercado.

Rafael Lucchesi, diretor geral do SENAI

 

Quais são as ocupações que se beneficiariam mais com esse olhar voltado para a exportação?

Com novas oportunidades em nichos mais intensivos em tecnologia, seguramente as ocupações transversais têm um papel mais preponderante porque não estão presas a um único setor, servem para várias atividades e não ficam vinculadas à dinâmica do ciclo econômico de cada setor, que combina períodos de crescimento e de decrescimento. Automação industrial é um exemplo. Essas atividades transversais asseguram tanto a manutenção dessas pessoas no trabalho por serem mais produtivas – porque elas têm uma formação mais abrangente – como também aceleram o tempo de requalificação em caso de dispensa, porque elas têm mais opções de se vincular às oportunidades existentes.

As empresas de tecnologia também têm se destacado, mesmo em um ambiente de crise. Como um curso técnico pode ajudar?

Quem tem competência em automação avançada e em processos de manufatura avançada, a chamada indústria 4.0, seguramente vai liderar as oportunidades de negócios e vai participar dos principais mercados. O que existe hoje é uma forte integração de serviços avançados com a manufatura. O custo da manufatura de se fazer, por exemplo, um smartphone é 5%. O maior custo da cadeia de valor está nos serviços altamente qualificados que estão dentro do aparelho, o conjunto de aplicativos que está nele, que é 20 vezes o valor da produção da manufatura. Esse é um exemplo de negócio que está mais bem posicionado diante da crise, uma fusão da atividade de manufatura, da indústria, com serviços de alta complexidade, alta sofisticação. O progresso técnico e a incorporação de valor na atividade eletrônica é sempre mais veloz do que na produção, por exemplo, de commodities – como petróleo, minério de ferro, soja. Isso é uma tendência no mundo, e se a gente olhar a pauta de inserção da economia brasileira na economia global, nós estamos fortemente marcados por essas últimas atividades e a gente precisa reconfigurar isso.

Pesquisa da CNI mostra que os empresários consideram a qualidade de mão de obra um dos principais obstáculos ao aumento da produtividade. Como isso ocorre?

Nós precisamos de cinco trabalhadores para ter a mesma produtividade de um trabalhador norte-americano, e isso afeta a competitividade das empresas. A produtividade do trabalho é um indicador síntese. Vários fatores concorrem para ele: padrão técnico da firma, os salários, a dinâmica do mercado, tudo isso vai influir na produtividade do trabalho. Mas, no longo prazo, há um consenso que a produtividade é função da educação, regular ou básica, e da educação profissional. Temos baixa qualidade da educação regular e um pequeno contingente da população que faz ensino técnico. Nós sabemos fazer uma educação profissional de excelência, o resultado da WorldSkills (de 2015, quando o Brasil ficou em primeiro lugar) demonstra que o País tem uma educação profissional de excelência, sobretudo a praticada pelo SENAI. Mas a abrangência disso, no estoque da população, ainda é pequena. Temos hoje algo como 11% dos jovens entre 15 e 17 anos que fazem educação profissional junto com educação regular, enquanto a média nos países desenvolvidos é acima de 50%. Então é claro que isso se configura em fator de maior vantagem competitiva desses países, porque eles vão ter um mercado de trabalho mais balanceado. Nós precisamos corrigir essa deficiência. A educação profissional é uma agenda importante, estratégica para o País. Traduz-se em melhoria da produtividade do trabalho, em maior competitividade das empresas, maior condição de geração de emprego, de riqueza, mais oportunidades para a juventude, fazendo com isso do Brasil um país mais equânime.

A educação profissional pode ajudar o País a enfrentar melhor a crise econômica?

O ciclo educacional é mais longo do que o econômico, os resultados são mais lentos, mas seguramente à medida que a gente ampliar a educação técnica no Brasil certamente será um fator central de competitividade – uma vez que a gente não vai ter os estrangulamentos na oferta de pessoal técnico qualificado – e isso vai se traduzir em uma situação mais favorável para a nossa recuperação econômica. De maneira clara, com um trabalhador mais qualificado, as empresas teriam melhor condição de se ajustar à crise porque teriam um custo de produção mais baixo.

 

Fonte: Portal da Indústria